sábado, 29 de janeiro de 2011

Fogo Interno

   Honra. Está aí uma palavra cada vez menos usada hoje em dia. Isso talvez esteja acontecendo porque o conceito da palavra também está desaparecendo. Quem hoje em dia luta por algo próprio, sem se importar com o que os outros pensam e dizem, passando pelos obstáculos necessários sem ao menos olhar para trás ou pensar em desistir, somente porque fez uma promessa a si mesmo? Poucas pessoas.
   A maioria provavelmente diria que isso é bobagem ou burrice (aliás, uma das definições a qual honra virou sinônimo); por que fazer tudo isso só para cumprir uma promessa que sequer tem valor "real", que não vai fazer a mínima diferença nem para a pessoa ou para o resto do mundo? Os antigos samurais, aqueles da antiga aristocracia japonesa, poderiam dar várias razões.
   Estes guerreiros acreditavam que a vida na Terra era limitada, mas que o nome e a honra poderiam durar para sempre. Por isso, não temiam a morte e não hesitavam em um campo de batalha, não porque serviam ao imperador e tinham que cumprir suas funções, mas porque tinham que seguir seu próprio código de conduta; eles não tinham que provar nada a ninguém, exceto a si mesmos. Para mostrar como eles levavam a sério, um samurai, caso seu nome fosse desonrado, realizava o seppuku, ritual em que o guerreiro cravava uma tanto (espécie de espada), sua própria wakizashi (espada curta) ou um punhal no lado esquerdo do abdomên, cortando até o lado direito e, por fim, puxando a lâmina de baixo para cima até o peito. Era uma morte lenta e dolorosa, mas para esses guerreiros significava manter a honra intacta, eterna.
   É claro que é uma atitude extrema e, obviamente, não recomendo ninguém a enfiar uma faca na barriga caso faça algo de errado; porém, o significado desse ato transcende o literal. Não quer dizer se matar para fugir dos problemas, e sim ter a consciência de que o que fazemos na vida é o que importa, e não a vida em si. E essa consciência vem do Bushido (literalmente "caminho do guerreiro"), o código de honra não-escrito que cada samurai seguia até o fim de sua vida para perpetuar sua honra e/ou de sua família.
   Será que não é possível ter um bushido hoje em dia, mesmo que os samurais não estejam mais por aqui? Afinal, para manter sua honra viva, não adianta apenas lembrar deles como sendo fortes e destemidos; é preciso viver a honra, mantê-la viva através da experiência, da luta, da persistência, do respeito. É preciso honrar a honra.   


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